Células de rosa e plâncton termal: a biotecnologia a serviço dos cosméticos


Era uma vez uma rosa cor-de-rosa choque que, depois de passar por diversas manipulações num laboratório do Grupo L’Oréal, transformou-se em ingrediente para cuidados da pele comercializados no mundo todo. Esse é um exemplo, entre outros, de como muitos cosméticos talvez venham a ser fabricados no futuro.

Nas estufas do Centro de Biotecnologias do Grupo L’Oréal, na cidade de Tours, região central da França, é conservada a rosa "Lancôme", juntamente com uma centena de espécies vegetais que são o objeto de estudos de uma pequena equipe de pesquisadores. O objetivo é selecionar espécimes de cepas que produzam princípios ativos para tratamentos cosméticos, sem esgotar os recursos naturais.

Células "desdiferenciadas"

Para se chegar a esse resultado, primeiro os pesquisadores selecionam a planta, realizando em seguida uma cultura de células "desdiferenciadas" a partir de um minúsculo fragmento de folha ou caule. O adjetivo "desdiferenciadas" significa que, embora carreguem o DNA da planta, essas células não se transformarão em caule, nem folha, nem pétala. Cultivadas em placas de Petri, elas se multiplicam ao longo de semanas e meses, formando um pequeno aglomerado rosado ou esverdeado.

As células de rosa foram criadas nesse laboratório francês em 2012, a pedido da Lancôme, marca do Grupo L’Oréal, que queria desenvolver um produto a partir da rosa que simbolizava a empresa. Mas os pesquisadores não costumam trabalhar apenas seguindo instruções. Em geral, extrapolando o pedido feito pelas marcas, eles realizam experiências em função das propriedades desejadas, como efeito hidratante ou ação anti-idade.

Plâncton termal

A algumas dezenas de metros do laboratório, a unidade de biotecnologia da Novéal, subsidiária da L’Oréal, utiliza cubas maciças para produzir não somente células de rosa, como também de vitreoscilla filiformis, bactéria de um plâncton termal empregada em tratamentos cutâneos desenvolvidos pelo gigante francês do setor de cosméticos.

"Toda a produção tem início com uma pequena amostra de apenas 10 ml", explica Catherine Labarre, diretora da unidade.

Trata-se de um processo bem azeitado: no caso do plâncton, a amostra é introduzida num pequeno frasco que contém um meio de cultura estéril. Em seguida, o frasco é colocado em uma incubadora, onde permanece por 48 horas em temperatura de 26 graus. "Nesse intervalo de 48 horas, a bactéria se reproduz, consumindo totalmente o meio de cultura", revela Catherine Labarre. A partir daí é necessário recomeçar a operação para aumentar exponencialmente essa matéria-prima durante três dias, antes de lançar a produção. No caso das rosas, o tempo necessário é muito maior. "A vantagem é que não retiramos esse material do meio ambiente natural", ressalta a diretora da unidade.

Com dez milímetros de material, é possível produzir nove toneladas de biomassa em um mês. Esse material é depois embalado em bolsas estéreis de dois ou cinco litros e vendido às marcas do Grupo, que utilizarão os princípios ativos em diversas fórmulas.

Ciências verdes

Num cenário em que os consumidores se mostram cada vez mais preocupados com o meio ambiente, a L’Oréal decidiu priorizar as ciências verdes, ou green sciences, dando ampla publicidade a esse tema. O gigante mundial de cosméticos fixou como prazo o ano de 2030 para que suas fórmulas contenham 95% de ingredientes obtidos de fontes vegetais renováveis, de minerais abundantes na natureza ou de processos circulares.

Mas as empresas do setor de cosméticos que desejam abraçar uma visão mais sintonizada com as questões ambientais são obrigadas a atuar em diversas frentes, enfrentando uma série de desafios: trabalhar com embalagens ecológicas, integrar materiais que substituam derivados da indústria petroquímica ou usar cadeias de abastecimento de matérias-primas que não perturbem o meio ambiente.

A exemplo da L’Oréal, o Grupo Coty também vem apostando em biotecnologias. Recentemente, essa companhia americana anunciou uma parceria com a LanzaTech, empresa especializada em reciclagem de carbono, para incorporar etanol obtido por captura de carbono ao processo de fabricação de seus perfumes.

"Imaginem só: as emissões de origem industrial, que em princípio seriam liberadas na atmosfera como gases de efeito estufa, hoje já podem ser transformadas em novas fragrâncias", explica Thierry Molière, gestor de Pesquisas da Coty, que vê nesse processo "o exemplo máximo de aproveitamento por meio de reciclagem".

Aliás, graças a uma parceria com a Total, a L’Oréal criou um protótipo de frasco plástico para shampoos com base na tecnologia de captura de carbono industrial desenvolvida pela LanzaTech. Decididamente, as biotecnologias estão definindo os contornos de uma nova era para a indústria de cosméticos!

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