Demanda por soluções personalizadas faz indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos avançar em inovações para cuidados capilares
Webinar INOVAÇÃO ABIHPEC de Cabelo reuniu especialistas para discutir os desafios e inovações nos cuidados com cabelos cacheados, modelagem e pigmentação dos fios
A personalização dos cuidados capilares está no centro das inovações do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC), impulsionada pela crescente demanda por soluções adaptadas a diferentes tipos de cabelo. No primeiro dia do 7º Webinar INOVAÇÃO ABIHPEC de Cabelo, especialistas discutiram avanços científicos que buscam atender às necessidades específicas dos consumidores, com destaque para tecnologias voltadas ao cuidado dos cabelos cacheados, encaracolados e de base escura.
Ronak Rughani, chefe de ciência e tecnologias capilares da L'Oréal nos EUA, trouxe uma análise sobre o crescimento do mercado de produtos para cabelos cacheados, cujos consumidores já representam 40% da população mundial. De acordo com o especialista, para inovar nesse mercado, é preciso entender as diferenças estruturais e morfológicas entre o cabelo cacheado e o liso. Com crescimento projetado de 12% nos Estados Unidos e 10% na América Latina em 2023, o segmento de cabelos cacheados é impulsionado principalmente pela Geração Z, onde 53% têm cabelos cacheados, seguido pelos Millennials (48%), Geração X (46%) e Boomers (34%). Esse aumento é favorecido pela miscigenação e o crescimento de casamentos inter-raciais, que contribuem para a diversidade de padrões de cachos.
Para atender esse público em expansão, a L'Oréal está investindo em fórmulas que equilibram óleos e polímeros, promovendo hidratação e definição para cada tipo de cacho. "Cabelos crespos demandam mais umidade, que pode ser oferecida por cremes, enquanto a definição é aprimorada com géis em cabelos ondulados e cacheados", explicou Rughani. Ele enfatizou que essa abordagem, desenvolvida por meio de um processo de cocriação envolvendo consumidores, cientistas e especialistas em cachos, busca oferecer resultados personalizados que consideram as necessidades específicas de cada tipo de cabelo.
Rebecca Lunn, líder de aplicações da Dia-Stron no Reino Unido, aprofundou o tema da resistência dos fios e o impacto das práticas de modelagem intensas, como tranças, no cabelo muito encaracolado. O estudo de fadiga das fibras, apresentado pela especialista, permite entender como o desgaste estrutural afeta o cabelo, especialmente com o uso de práticas de modelagem que dobram e tensionam a fibra capilar.
Lunn também apresentou soluções para mitigar esses danos, destacando o papel de óleos, como o de abissínia, que ajudam a proteger a camada da cutícula, e reduzem a propagação de fissuras. Esses óleos atuam prevenindo “rachaduras” e controlando a absorção de água pelos fios, prolongando sua resistência ao desgaste diário. A técnica, de acordo com Lunn, visa aumentar a durabilidade dos fios e atender aos consumidores que buscam preservar a saúde capilar, especialmente em estilos que exigem tração e torção constantes.
O engenheiro de pesquisa da L'Oréal França, Grégoire Naudin, trouxe um estudo sobre a composição da melanina em cabelos escuros, analisando como a distribuição de eumelanina e feomelanina impacta nas necessidades de cuidados para cabelos de base escura. “A eumelanina proporciona tons de preto e marrom, enquanto a feomelanina gera tons avermelhados e amarelados”, explicou Naudin, ressaltando que o tipo e a densidade de melanina variam entre as regiões geográficas. Dados da pesquisa mostraram que o tipo de cabelo mais comumente encontrado no continente africano, por exemplo, possui maior quantidade de eumelanina, o que confere tons naturalmente mais escuros e uma estrutura mais resistente. Já os cabelos mais típicos das regiões asiáticas e europeias possuem uma combinação variável de pigmentos, com menor concentração de eumelanina.
Os estudos de melanina têm permitido que a empresa desenvolva produtos que respeitem as características específicas de cada tipo de cabelo, garantindo a manutenção da cor e saúde do fio. Essa compreensão dos pigmentos, segundo o especialista, ajuda a ajustar as formulações, criando produtos eficazes que consideram as particularidades de cada grupo étnico e tonalidade. A pesquisa também analisou os minerais presentes nos cabelos de diferentes grupos étnicos, observando que variações na concentração de elementos, como ferro, por exemplo, podem influenciar a durabilidade e a resistência dos fios aos agentes externos, o que reforça a necessidade de formulações que ofereçam proteção e manutenção adequados.
O primeiro dia do Webinar INOVAÇÃO ABIHPEC de Cabelo contou com a abertura de Marina Kobayashi, gerente de inovação da ABIHPEC e Adelino Nakano, coordenador técnico do webinar e líder sênior de projetos em tecnologia de coloração na L’Oréal França, ambos responsáveis pela coordenação e curadoria de conteúdo do evento.
Tratamentos químicos e exposição ambiental elevam a demanda por inovações que protejam a saúde capilar
No segundo dia do Webinar INOVAÇÃO ABIHPEC de Cabelo, especialistas discutiram sobre a integração de ativos para responder às novas exigências do mercado de cuidados capilares
A saúde do couro cabeludo e dos fios é um tema crítico e atual para as pesquisas da indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. No segundo dia do Webinar INOVAÇÃO ABIHPEC de Cabelo, especialistas exploraram desde a influência dos ativos anti-inflamatórios até o impacto ambiental sobre os fios, evidenciando a necessidade de soluções personalizadas que atendam a um público cada vez mais exigente. O webinar reuniu ciência, inovação e biodiversidade, para falar da importância de ingredientes nativos, como o óleo de babaçu e pequi, destacando-os como alternativas sustentáveis e eficazes para a proteção e recuperação dos cabelos submetidos a processos químicos e à ação dos poluentes diários.
No cenário de inovação capilar apresentado por Adilson Marinheiro, engenheiro e gerente de projetos da Syensqo França, o couro cabeludo é visto como um ponto de conexão entre a ciência dermatológica e a demanda por bem-estar capilar.
Marinheiro detalhou a crescente procura por ingredientes multifuncionais que não apenas combatam a inflamação, mas também atuem como antioxidantes, promovendo um ambiente mais equilibrado e saudável para o couro cabeludo. A influência do mercado asiático, especialmente em regiões de clima quente e úmido como China, Índia e Coreia do Sul, intensifica a busca por produtos que ajudem a controlar a oleosidade e reduzam a proliferação bacteriana, revela um perfil de consumidor atento ao impacto ambiental na saúde do couro cabeludo. Esse tipo de inovação, segundo o especialista, já se materializa em moléculas específicas que oferecem benefícios comoalívio de inflamações, controle de bactérias e fortalecimento dos fios contra os efeitos do estresse oxidativo.
A América Latina, incluindo o Brasil, não fica atrás, com uma crescente demanda por produtos com propriedades antipoluição que protejam tanto o couro cabeludo quanto a estrutura capilar. O especialista destacou a importância de métodos precisos de teste para avaliar a eficácia dessas formulações, que permitem avaliar desde a resposta dos queratinócitos à radiação UV até a capacidade de determinados ingredientes em reduzir a morte celular e a foto-oxidação. Nessa linha, ingredientes inovadores mostraram resultados promissores em proteger as células do couro cabeludo contra danos causados pela poluição do ambiente. Essas inovações, embora tecnicamente complexas, trazem uma proposta clara: fórmulas que atendem às necessidades estéticas e mantêm o equilíbrio da saúde capilar diante de fatores ambientais.
A dermatologista Leila Bloch fez uma análise complementar ao explorar o impacto dos procedimentos químicos no couro cabeludo, evidenciando como eles podem desestabilizar tanto a estrutura dos fios quanto o microbioma natural da pele. Segundo Bloch, tratamentos que têm o objetivo de transformar a textura dos fios acabam também alterando a distribuição dos lipídios, o que, além de modificar a fibra capilar, aumenta a percepção de oleosidade, incentivando muitas vezes um ciclo de lavagens e secagens frequentes, intensificando a oleosidade e o ressecamento. O desafio, neste caso, é encontrar o equilíbrio entre a manutenção dos efeitos dos tratamentos e a preservação da saúde do couro cabeludo, uma tarefa na qual o microbioma se torna um importante aliado.
Esse microbioma do couro cabeludo inclui diversos microrganismos, sendo Malassezia um fungo predominante, que está associado ao desenvolvimento de dermatite seborreica e alopecia. Bloch destacou que a presença desse fungo, combinado com o aumento de sebo e uma alteração na sua qualidade, favorece o surgimento de inflamações e descamações que agravam essas condições. Pesquisas recentes apontam que a saúde do couro cabeludo pode ser potencialmente restaurada com a utilização de ingredientes bióticos, aplicados topicamente, que visam equilibrar essa microbiota e reduzir as inflamações. Além disso, os microrganismos Staphylococcus e Cutibacterium, que também habitam o couro cabeludo, se revelam relevantes na manutenção da barreira epidérmica e na regulação da hidratação da pele.
Letícia Kakuda, doutoranda pela USP-Ribeirão Preto, falou sobre o expossoma, um conjunto de fatores externos e internos que afetam diariamente a saúde dos fios capilares. Com elementos como poluição, radiação solar, alimentação e estresse, o expossoma age como um "estressor constante" na estrutura capilar, comprometendo a resistência e alterando o brilho e a penteabilidade dos fios. Kakuda destacou que, no Brasil, essa questão é ainda mais complexa devido à diversidade de tipos de cabelo, como lisos, ondulados e cacheados, que reagem de maneira distinta a esses fatores. Assim, a indústria enfrenta o desafio de formular produtos que respeitem essas particularidades e tragam benefícios reais para consumidores cada vez mais exigentes.
Parte dessa resposta vem da utilização responsável de ingredientes da biodiversidade brasileira, como os óleos de pequi e babaçu, que têm se mostrado altamente eficazes em produtos capilares. Extraídos de forma sustentável, esses óleos são ricos em ácidos graxos e antioxidantes, conferindo nutrição e proteção contra os efeitos adversos do expossoma. O uso de tecnologias de extração como a do CO₂ supercrítico preserva os componentes bioativos desses óleos, potencializando sua eficácia nos cuidados capilares. Essa abordagem promove a saúde dos cabelos e valoriza a sustentabilidade, ao transformar os recursos naturais brasileiros em soluções que atendem a necessidades específicas, como a proteção contra poluentes e outros agentes ambientais de envelhecimento.
Fonte: ABIHPEC
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